É uma entrevista magistral ao líder do CDS-PP, na RTP.
Judite Sousa revelou um político banal, distante do brilhantismo retórico de outros momentos.
Mérito da entrevistadora ou um falhanço do político?
Paulo Portas não está habituado a ser entrevistado por jornalistas que estudaram as suas posições políticas. Felizmente, para o esclarecimento da população, a ex-directora da RTP esteve à altura de um momento importante.
O início da entrevista foi decisivo. Portas esbarrou nas questões pertinentes e incisivas sobre o estado de guerrilha eleitoral entre o PSD e o CDS-PP. Nem os nervos de aço, uma das maiores qualidades de Portas, foram suficientes para salvar a situação.
Ao longo dos primeiros minutos, o político perdeu o controlo, não conseguindo disfarçar a irritação de ser confrontado com algumas das suas posições virtuais.
Num segundo momento, Portas teve de enfrentar uma pergunta ainda mais embaraçosa. Com serenidade e frontalidade, Judite Sousa colocou em cima da mesa uma acusação do Bloco de Esquerda, divulgada umas horas antes: Bagão Félix e Paulo Portas usaram os registos do Estado para enviar cartas de propaganda aos 400 mil ex-combatentes. Paulo Portas negou, mas adiantou que iria saber o que se tinha passado.
Encostado às cordas, o dirigente partidário percebeu que a entrevista já estava comprometida, pelo que optou por uma estratégia de limitação dos estragos.
Nervoso, e algo desconcentrado, o líder do CDS-PP ainda foi obrigado a entrar em terrenos minados, como a Justiça e as Finanças Públicas, afinal, duas pastas tuteladas por personalidades ligadas ao CDS-PP. Curiosamente, Portas invocou Bagão Félix, mas esqueceu-se de referir Celeste Cardona. O mais grave ainda estava para acontecer. O patrão do CDS-PP não conseguiu – ou não quis – distanciar-se do Governo de que faz parte, responsável por algumas das maiores trapalhadas de todos os tempos, nomeadamente em relação ao défice. Nesta matéria o derrapanço foi total.
A partir do meio da entrevista, a prestação de Portas foi confrangedora. Exige transparência a José Sócrates, mas recusa revelar se vai aprovar um orçamento do PS, bem como foge a identificar qual é o partido mais bem colocado para ganhar as eleições, por três vezes consecutivas. O desastre só não foi total porque conseguiu desconcentrar Judite Sousa com um slogan bem recuperado: Não há vencedores antecipados, pois os votos são dos eleitores, não são dos partidos.
No meio do massacre -, uma situação inédita, completamente inesperada -, Paulo Portas ainda teve tempo de levantar a cabeça, insistindo numa das vulnerabilidades de campanha de José Sócrates: Ele não debate comigo. Talvez, a única questão em que marcou um ponto positivo.
No fim da entrevista, a propósito da polémica que rebentou com as declarações de Santana Lopes, em Famalicão, Judite de Sousa ainda disparou uma última pergunta de actualidade:
- Está solidário com as afirmações de Pedro Santana Lopes?
- Não sou comentador dos problemas entre o PS e o PSD, respondeu.
Judite Sousa tem o mérito de ter estado brilhante.
Paulo Portas, que não esteve ao seu nível, falhou uma oportunidade de ouro para potenciar a campanha do CDS-PP.
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