Pedro Santana Lopes ganhou.
Nas alegações finais, o primeiro-ministro foi mais profissional, olhando directamente cada um dos muitos milhões de portugueses que assistiram ao debate do ano, na SIC e na 2, para lhes dizer que também tem um sonho para Portugal.
O líder do PSD protagonizou uma mensagem mais clara e mais emocional, garantindo que os portugueses podem contar com ele. As suas últimas palavras são de humildade: eu atrevo-me a dizer que conto convosco.
José Sócrates esteve ao seu melhor nível.
Corajoso, afirmativo, seguro, capaz e determinado, - talvez um pouco arrogante -, o engenheiro obteve um atestado de credibilidade.
O que falhou?
As últimas palavras têm de ser olhos nos olhos, com os telespectadores, tal e qual como esteve com Santana Lopes, durante o debate, mesmo nos momentos mais difíceis, nomeadamente em relação aos boatos de que tem sido alvo.
Aliás, foi assim que o debate começou.
Maria Flor Pedroso, editora de política da RDP, colocou a pergunta certa para abrir o debate – a campanha de boatos e as polémicas declarações de Santana Lopes, em Famalicão, saltaram para cima da mesa.
Sócrates esteve magnífico. Passou ao ataque, sem medo de enfrentar a questão. Santana Lopes reagiu, apesar da condição desfavorável em que se encontrava, depois de ter sido duramente castigado pela generalidade da imprensa. Acontecia o primeiro empate do duelo.
O debate foi discutido taco-a-taco.
Em nenhum momento, apesar de uma ligeiríssima vantagem de Sócrates na primeira parte, houve um vencedor destacado.
O líder do PS bem tentou empurrar o debate para o campo da avaliação da governação Durão Barroso/Paulo Portas/Santana Lopes. Se não o conseguiu não foi por sua culpa. O modelo do debate, com perguntas pré-definidas, não permitiu esse caminho. Santana Lopes, habilmente, resistiu a replicar de forma a que os jornalistas fossem pela responsabilização da actual maioria.
Sócrates surgiu concentrado, atacando os resultados negativos das políticas aplicadas nas últimos três anos. Todavia, Santana Lopes também surgiu firme e com a lição estudada, clamando que está a ser julgado por apenas quatro meses de governação.
Os temas da primeira parte do debate, nomeadamente os impostos, as pensões, a pobreza, o aumentos dos funcionários públicos, as reformas e o desemprego, revelaram um líder do PS mais competente e agressivo, mas não permitiram um KO.
Na segunda parte, o debate começou com a co-incineração, que marcou um novo empate técnico entre os dois únicos candidatos a primeiro-ministro de Portugal.
O aborto, a clonagem, a adopção e o casamento entre homossexuais também não estabeleceram uma clara vantagem, apesar de confirmarem uma certa supremacia de José Sócrates.
Afinal, estes não são os temas principais da agenda política, como sublinhou o líder do PS. Mas, aqui, a contradição funcionou a favor de Santana Lopes. O líder do PS conferiu grande importância a estes temas, mas preferiu, e bem, apostar em assuntos realativos ao dia-a-dia dos portugueses. Santana Lopes não se deu como vencido e insistiu que estes são os temas da modernidade, que estão em cima da mesa na Europa.
A partir deste momento, tudo e todos esperavam por um clique, que permitisse eleger um claro vencedor. Mas, até neste momento, o empate permanceu.
Santana Lopes marcou pontos quando explorou o silêncio de Sócrates em relação a uma vitória do PS sem maioria absoluta. Por sua vez, o líder do PS ganhou crédito quando colocou Santana Lopes perante as trapalhadas dos últimos quatro meses, nomeadamente quando o invectivou a explicar por que razão não conseguiu governar com uma maioria no Parlamento.
Tudo se decidiu nos últimos oito minutos.
Santana Lopes conseguiu passar uma mensagem mais afectiva, assumindo-se, legitima ou ilegitimamente, como o campeão dos que enfrentam os poderosos, nomeadamente a banca.
José Sócrates, inexplicavelmente, evitou a câmara, o olhar de cada um dos portugueses, mas registou, racionalmente, uma a uma, as vulnerabilidades do seu opositor - o pior crescimento da economia, desde 1944; a subida do desemprego; a degradação das contas públicas; o sentido de Estado; a necessidade de mudar; e a vontade de fazer Portugal voltar a acreditar.
Em síntese, Santana Lopes ganhou no campo mediático, uma valência que não se pode ignorar.
José Sócrates podia ter ganho, pelo que fez durante o debate, mas cedeu no último momento, no momento crucial de uma intervenção televisiva, mas não comprometeu a sua esmagadora vantagem em relação ao seu principal e directo opositor, como comprovam as diversas sondagens
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