José Sócrates aproveitou. E muito bem. À boleia dos dislates oratórios de Santana Lopes, que parecem fruto de uma circunstância mas são resultado de um raciocínio frio e calculista, José Sócrates capitalizou e brilhou na RTP, durante a entrevista que concedeu a Judite de Sousa, menos agressiva do que é normal.
Apesar de mal maquilhado, a imagem passou: o líder do PS acelerou o discurso, sempre seguro, sorridente e simpático, para com a curiosidade e insistência normal da jornalista em relação a determinados aspectos da vida política portuguesa. O candidato a primeiro-ministro, que queria determinar a forma como os jornalistas se lhe deviam dirigir durante a campanha eleitoral, helàs, surgiu mais disponível, engolindo a insuportável arrogância que transborda quando fala, pelo menos durante cerca de uma hora.
José Sócrates passou, com distinção, a prova da entrevista política. Todavia, em termos de substância, tudo ficou na mesma. Continua vago, muito vago.
O projecto de Sócrates resumiu-se a um plano tecnológico incipiente, a algumas banalidades sobre a orgânica do Governo (como se já tivesse ganho as eleições), a duas ou três promessas avulsas em termos de economia e finanças e, infelizmente, a pouco mais. É aqui que reside o problema de José Sócrates. Por diversas vezes, o candidato a primeiro-ministro disse que não se queria comprometer, o que é inaceitável para quem se candidata à liderança do Governo. Tal como repetiu, noutras circunstâncias, Sócrates continua a alimentar um tabu em relação a um eventual cenário de vitória sem maioria absoluta. Não diz o que vai fazer. Aliás, é visível o esforço que faz para tentar disfarçar o incómodo por ter de responder a esta questão. Tudo, como se Sócrates sentisse uma espécie de direito divino a ganhar as próximas eleições, sem ter que dar explicações aos portugueses.
Com a entrevista a correr bem, José Sócrates ainda teve uma oportunidade de ouro, no final da entrevista. Como político arguto não a desperdiçou. Ao elogiar a decisão de Bagão Félix em avançar com a cobrança coerciva da dívida dos clubes de futebol, José Sócrates revelou autoridade, firmeza e determinação. Mas também demonstrou o seu instinto político, prometendo contribuir para vergar quem já não tem força e está fragilizado pelo arrastamento de sucessivos escândalos.
1 comentário:
Essa do futebol foi forte.Tão amigos que eles eram antes, durante e depois do Euro 2004.
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