O país começa a compreender, lentamente, que as megalomanias têm custos incalculáveis a longo prazo. Sobretudo, se as reformas estruturantes - educação, função pública, justiça e saúde - são atiradas para as calendas.
Os portugueses estão a despertar para uma nova realidade, depois de terem vivido o óasis cavaquista, a euforia guterrista e a tanga barrosista.
Não é por acaso que, agora, os líderes partidários não prometem mundos e fundos. O que está a dar é prometer sacrifícios, quanto mais dolorosos melhor. A vida política bateu de tal maneira no fundo que a propaganda positiva está a ser substituída pela propaganda depressiva. Basta dar uma espreitadela rápida pelos meios de comunicação social para perceber que a criatividade do marketing político não tem limites. Como se fosse possivel exigir aos portugueses, em três ou quatro anos, o que não lhes foi pedido nas duas últimas décadas.
A campanha já não se faz com os slogans de mais paz, pão, habitação, saúde e educação. A quimera é outra: a recuperação do atraso em relação aos países da União Europeia, com base numa espécie de receita tipo pudim instantâneo.
O paradoxo está à vista. Antigamente, os portugueses eram bombardeados com as promessas douradas para se convencerem que faziam parte do clube dos ricos. Agora, chegou a vez de os massacrar com as promessas negras para os iludir que ainda é possível alcançar, ali, mesmo ao virar da esquina, os países mais desenvolvidos.
O grande problema é que a credibilidade da mensagem política, aparentemente, já nem lá vai com o estafado sofisma da maioria absoluta (ver o magnífico artigo in A Praia), nem com o truque do apelo patrioteiro. Como sempre aconteceu, por culpa da classe dirigente, que se habituou a ser politicamente inimputável, a retoma económica, em Portugal, está condicionada pelo ciclo de crescimento europeu e mundial, dependendo de outros ventos e marés, independentemente de quem vai ser o vencedor das próximas eleições.
O discurso de verdade é outro, e não pode escamotear a realidade: a resolução da crise das finanças públicas e a terapia necessária para acabar com os estrangulamentos do modelo de desenvolvimento são uma tarefa hercúlea, que não depende apenas de uma geração.
Num país que está cheio de brilhantes tecnocratas e de candidatos ao papel de salvador nacional, o que faz falta é uma cultura de transparência, é a consciencialização colectiva de que somos um país sem recursos, que tem de trabalhar mais e melhor para recuperar o tempo perdido, em suma, é uma mobilização sã e realista, que não se confunde com as fantasias imperiais do passado.
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