segunda-feira, março 7

Uma questão de estrangeirados

Não conheço Fernando Albino, que faz parte do blog noquintodosimpérios.blogspot.com
A propósito de um post, a que respondi com um sobe e desce, apelidado de Estrangeirado, tive direito a uma réplica, entre o choradinho e o fado.
Fernando Albino respondeu-me, começando por citar Herman José: «É mais difícil ser humorista em Portugal porque os Portugueses têm pouca capacidade para rir de si próprios». Em primeiro lugar, não imagino pior início de resposta. Mas o mais grave ainda estava para vir a seguir. O ilustre polemista conclui que «há uma intrínseca falta de distanciamento da nossa própria realidade». Ora, meu caro Fernando, quem circula pela Internet já percebeu que a globalização, a que os portugueses não escaparam, felizmente, nos faz semelhantes a tantos outros povos que connosco partilham um espaço e uma cultura civilizacionais.
Num segundo momento, Fernando Albino insurge-se contra as promessas demagógicas dos políticos portugueses (com uma referência expressa a Francisco Louçã). E atira esta pérola: (…) «as inconsequentes medidas demagógicas de um político de vão de escada que em qualquer lado da Europa ocidental não teria mais que um minuto de tempo de antena por ano (dois minutos vá)». Que dizer? Deduzi que vivia no estrangeiro, porventura erradamente, mas nunca imaginei que se tinha passado para Marte. Basta dar uma olhadela pelos principais jornais europeus, algo muito fácil para quem tem Internet, para perceber que esta afirmação não faz qualquer sentido. Goste-se ou não se goste das ideologias de cada um, todas as campanhas são marcadas por promessas e mais promessas.
Por último, talvez desgostado por lhe ter chamado Estrangeirado, - fica a saber que também o fui, por isso não me passa pela cabeça considerá-lo um insulto -, Fernando Albino deixa escapar uma afirmação ainda mais curiosa, que me obrigou a esta tréplica. «Como se a objectividade que advém do simples facto de se estar de fora incomodasse». Ora, caro companheiro de blogosfera, aqui está uma boa razão para lhe chamar Estrangeirado. O facto de se estar de fora não implica maior lucidez, nem tão pouco mais objectividade, como admitem as ciências sociais. A clarividência que o atacou, eventualmente, um perigo para quem está pelo menos um ano ausente da terra natal, é o pior sintoma de uma superioridade e condescendência insuportáveis.

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