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DEZ EXEMPLOS EM DOZE MESES
Os especialistas consideravam, até 2003, que os grandes incêndios se caracterizavam pela destruição, no mínimo, de 100 hectares de floresta.
Os números do ano passado e deste ano podem obrigar mna revisão do conceito.
Durante várias décadas e até ao ano passado, o fogo que deflagrou em 1987, em Arganil, ocupou o primeiro lugar no "ranking" dos maiores incêndios florestais portugueses - cerca de 12 mil hectares foram destruídos. O primeiro foco surgiu perto de Arganil, distrito de Coimbra, no dia 13 de Setembro, e a extinção só foi declarada sete dias mais tarde.
Numa só noite, as chamas engoliram metade do total da área ardida.
No rescaldo contabilizam-se várias aldeias atingidas e duas vítimas mortais. A 20 de Setembro, a ajuda preciosa de uma chuvada rompeu com a progressão do fogo.
Observando, porém, os registos de 2003 e 2004, a tragédia de Arganil fica relativamente diminuída.
2004
TAVIRA
Fogo junto às praias O primeiro grande incêndio do concelho de Tavira, a 27 de Junho, deixou quase 500 hectares de mato em cinzas. As chamas, porém, voltaram em força e passados três dias fizeram desaparecer 3720 hectares de floresta e mais de uma dezena de casas. Durante vários dias, o incêndio galgou mato e ameaçou povoações. A freguesia de Conceição foi a zona mais fustigada, tendo ardido cerca de metade da sua área. As limalhas incandescentes de uma rebarbadora foram as responsáveis pela ocorrência.
ALQUEVA
A insistência das chamas A luta de mais de 160 bombeiros durante dois dias pôs um ponto final neste incêndio que deflagrou a 12 de Julho e consumiu mais de 2220 hectares de floresta. Por diversas vezes, os combatentes pensaram ter o fogo controlado, mas as chamas foram insistentes, provocando diversos reacendimentos que obrigaram à mobilização de um avião Canadair e dois helicópteros. O fogo teve início nas proximidades da aldeia de Alqueva, onde se situa a principal barragem alentejana, mas os estragos alastraram-se também ao concelho da Vidigueira.
SERRA DO CALDEIRÃO
O incêndio do ano Foi o pior incêndio do ano. Ainda não há dados oficiais, mas o comandante dos Bombeiros Municipais de Loulé estima que arderam 34 mil hectares.
Os danos ambientais são evidentes, juntando-se a eles os prejuízos económicos que resultam dos milhares de sobreiros afectados. As chamas arrancaram a 26 de Julho de Almodôvar, no Alentejo, mas os ventos fortes contribuíram para que rapidamente chegassem ao Algarve. A zona poente de Loulé foi a porta de entrada do fogo nesta região, mas o concelho de Silves também foi tingido pelo negro. Durante três dias, este foco foi combatido, tendo sido declarado extinto a 29 de Julho. Este não foi, no entanto, o fim. Uma outra frente avançou pelo lado nascente de Loulé e entrou em S. Brás de Alportel, uma das principais áreas de produção de cortiça.
Em apenas duas horas, o fogo correu 30 quilómetros, saltando de monte em monte. A rota do fogo ameaçou dezenas de povoações e pelo menos cinco habitações arderam.
MONCHIQUE
Primeiro ano negro Depois dos mais de 30 mil hectares que arderamoano passado, as chamas regressaram sem piedade à serra de Monchique. Os valores oficiais ainda não foram divulgados, mas o comandante dos bombeiros voluntários do concelho estima que arderam aproximadamente 1800 hectares. O fogo deflagrou num domingo em Barranco Silvestre e só na quarta-feira seguinte foi controlado. Mais de duas centenas de casas foram ameaçadas, dificultando o trabalho dos bombeiros. Apesar do esforço, três famílias perderam a sua residência permanente.
2003
FUNDÃO
Sete dias de combate O fogo nasceu a 27 de Julho em Silvares, a 11 quilómetros do Fundão, mas acabou por entrar nos concelhos de Castelo Branco e Oleiros. Arderam quase 20 mil hectares de floresta e em algumas alturas chegaram a registar-se cinco frentes distintas. Os bombeiros lutaram contra as chamas durante sete dias e um homem de 65 anos acabou por morrer carbonizado enquanto tentava afastar o fogo da sua propriedade. Durante o combate, um incidente aparatoso a registar: um helicóptero tocou nos cabos eléctricos e deixou Castelo Branco sem luz durante duas horas. Mais de oitocentos homens (entre bombeiros e militares) e dez meios aéreos fizeram parte do dispositivo de combate. A causa do fogo continua indeterminada.
PROENÇA-A-NOVA
Um retraio trágico Dois mortos, dezenas de famílias retiradas das casas e dezenas de feridos, a maior parte dos quais bombeiros. É este o retraio trágico de um fogo que inaugurou Agosto e manteve a força até ao dia 5. As chamas, que arrancaram de Froi, Proençaa-Nova, e galgaram até aos concelho de Castelo Branco, Oleiros e Sertã, consumiram mais de 36 mil hectares. O número dá-lhe o rótulo do segundo maior incêndio do ano (e de sempre). Mais de quinhentos bombeiros, quatro helicópteros pesados e dois aviões Canadaír combateram a fúria do fogo. A causa das chamas continua por determinar.
CHAMUSCA
Ardeu 50% do concelho A trovoada carrega a culpa deste incêndio que devastou quase 22 mil hectares.
Ulme, na Chamusca,
foi o ponto de partida do fogo, que varreu em apenas um dia metade do concelho. A 2 de Agosto, um dia após o arranque das chamas, havia casas a arder na vila da Chamusca e até unidades industriais que estavam no caminho do fogo foram consumidas. A localidade não dispunha de água nem de electricidade e os bombeiros deparavam-se com a falta de meios. A ameaça do incêndio obriga à evacuação dos trinta habitantes da aldeia de Casalinho.
VILA DE REI
Cercados pelas chamas O fogo entrou no concelho a 19 de Julho, tendo destruído mais de nove mil hectares, mas não ficou satisfeito e passados 11 dias reincidiu para engolir um área ligeira mente superior à da primeira passagem.
As chamas partiram novamente da Sertâ à conquista, bem sucedida, dos concelhos vizinhos de Vila de Rei, Sardoal e Abrantes.
Casas ardidas, povoações em risco, frentes de fogo indomáveis e moradores em pânico era o cenário vivido no dia em que Vila de Rei ficou cercada pelas chamas, sem electricidade nem comunicações. Pelo caminho ficou aquela que era a maior mancha contínua de pinheiro-bravo da Europa.
MONCHIQUE
Uma serra a preto O primeiro incêndio começou na Mexilhoeira Grande, em Portimão, mas arrasou vários concelhos do Barlavento algarvio.
Monchique, Aljezur e Lagos não escaparam.
Viram-se aldeias cercadas pelas chamas, populações à espera de serem evacuadas e chuvas de cinzas nas praias de Lagos.
O fumo intenso e a queda de materiais incandescentes obrigaram ao corte de várias estradas, incluindo alguns troços da Via do Infante. Contabilizavam-se quase 26 mil hectares de área ardida. O primeiro foco surgiu a 7 de Agosto, mas a 14 as chamas ainda não estavam controladas. Em Setembro, as chamas voltaram a Monchique. Desta vez, devastaram a serra. Foram 27.600 os hectares destruídos. Silves e Odemira completavam o rol de concelhos afectados.
NISA
O número um mcansável.ofogomanteveafonna durante 13 dias. Por vezes, as chamas combateram-se em 12 frentes. Resultado? 41.079 hectares de área ardida. Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários deNisa, José Polido, tudo começou num dia de trovoadas secas.
Três focos surgiram em simultâneo: S. Matias, Arez e Espírito Santo de Nisa. Os ventos fortes não ajudaram e as chamas chegaram apropagar-seamaisdeSOkm/h.NemoTejo serviu de obstáculo. Mação, Proença-a-Nova, Gavião e Vila Velha de Ródão compõem o rol de concelhos afectados. Diversas aldeias estiveram cercadas pelo fogo, que também rodeou a vila de Gavião. Várias casas arderam e muitos bombeiros apresentaram queimaduras ligeiras devido ao excesso de calor. Incendiarismo foi a causa oficial apontada para justificar o fogo.
In Público, Sábado 7 de Agosto 2004
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