quarta-feira, agosto 17

Há um ano ... era assim




DEZ EXEMPLOS EM DOZE MESES





Os especialistas consideravam, até 2003, que os grandes incêndios se caracterizavam pela destruição, no mínimo, de 100 hectares de floresta.
Os números do ano passado e deste ano podem obrigar mna revisão do conceito.
Durante várias décadas e até ao ano passado, o fogo que deflagrou em 1987, em Arganil, ocupou o primeiro lugar no "ranking" dos maiores incêndios florestais portugueses - cerca de 12 mil hectares foram destruídos. O primeiro foco surgiu perto de Arganil, distrito de Coimbra, no dia 13 de Setembro, e a extinção só foi declarada sete dias mais tarde.
Numa só noite, as chamas engoliram metade do total da área ardida.
No rescaldo contabilizam-se várias aldeias atingidas e duas vítimas mortais. A 20 de Setembro, a ajuda preciosa de uma chuvada rompeu com a progressão do fogo.

Observando, porém, os registos de 2003 e 2004, a tragédia de Arganil fica relativamente diminuída.

2004

TAVIRA
Fogo junto às praias O primeiro grande incêndio do concelho de Tavira, a 27 de Junho, deixou quase 500 hectares de mato em cinzas. As chamas, porém, voltaram em força e passados três dias fizeram desaparecer 3720 hectares de floresta e mais de uma dezena de casas. Durante vários dias, o incêndio galgou mato e ameaçou povoações. A freguesia de Conceição foi a zona mais fustigada, tendo ardido cerca de metade da sua área. As limalhas incandescentes de uma rebarbadora foram as responsáveis pela ocorrência.

ALQUEVA
A insistência das chamas A luta de mais de 160 bombeiros durante dois dias pôs um ponto final neste incêndio que deflagrou a 12 de Julho e consumiu mais de 2220 hectares de floresta. Por diversas vezes, os combatentes pensaram ter o fogo controlado, mas as chamas foram insistentes, provocando diversos reacendimentos que obrigaram à mobilização de um avião Canadair e dois helicópteros. O fogo teve início nas proximidades da aldeia de Alqueva, onde se situa a principal barragem alentejana, mas os estragos alastraram-se também ao concelho da Vidigueira.

SERRA DO CALDEIRÃO
O incêndio do ano Foi o pior incêndio do ano. Ainda não há dados oficiais, mas o comandante dos Bombeiros Municipais de Loulé estima que arderam 34 mil hectares.

Os danos ambientais são evidentes, juntando-se a eles os prejuízos económicos que resultam dos milhares de sobreiros afectados. As chamas arrancaram a 26 de Julho de Almodôvar, no Alentejo, mas os ventos fortes contribuíram para que rapidamente chegassem ao Algarve. A zona poente de Loulé foi a porta de entrada do fogo nesta região, mas o concelho de Silves também foi tingido pelo negro. Durante três dias, este foco foi combatido, tendo sido declarado extinto a 29 de Julho. Este não foi, no entanto, o fim. Uma outra frente avançou pelo lado nascente de Loulé e entrou em S. Brás de Alportel, uma das principais áreas de produção de cortiça.

Em apenas duas horas, o fogo correu 30 quilómetros, saltando de monte em monte. A rota do fogo ameaçou dezenas de povoações e pelo menos cinco habitações arderam.

MONCHIQUE
Primeiro ano negro Depois dos mais de 30 mil hectares que arderamoano passado, as chamas regressaram sem piedade à serra de Monchique. Os valores oficiais ainda não foram divulgados, mas o comandante dos bombeiros voluntários do concelho estima que arderam aproximadamente 1800 hectares. O fogo deflagrou num domingo em Barranco Silvestre e só na quarta-feira seguinte foi controlado. Mais de duas centenas de casas foram ameaçadas, dificultando o trabalho dos bombeiros. Apesar do esforço, três famílias perderam a sua residência permanente.

2003

FUNDÃO
Sete dias de combate O fogo nasceu a 27 de Julho em Silvares, a 11 quilómetros do Fundão, mas acabou por entrar nos concelhos de Castelo Branco e Oleiros. Arderam quase 20 mil hectares de floresta e em algumas alturas chegaram a registar-se cinco frentes distintas. Os bombeiros lutaram contra as chamas durante sete dias e um homem de 65 anos acabou por morrer carbonizado enquanto tentava afastar o fogo da sua propriedade. Durante o combate, um incidente aparatoso a registar: um helicóptero tocou nos cabos eléctricos e deixou Castelo Branco sem luz durante duas horas. Mais de oitocentos homens (entre bombeiros e militares) e dez meios aéreos fizeram parte do dispositivo de combate. A causa do fogo continua indeterminada.

PROENÇA-A-NOVA
Um retraio trágico Dois mortos, dezenas de famílias retiradas das casas e dezenas de feridos, a maior parte dos quais bombeiros. É este o retraio trágico de um fogo que inaugurou Agosto e manteve a força até ao dia 5. As chamas, que arrancaram de Froi, Proençaa-Nova, e galgaram até aos concelho de Castelo Branco, Oleiros e Sertã, consumiram mais de 36 mil hectares. O número dá-lhe o rótulo do segundo maior incêndio do ano (e de sempre). Mais de quinhentos bombeiros, quatro helicópteros pesados e dois aviões Canadaír combateram a fúria do fogo. A causa das chamas continua por determinar.

CHAMUSCA
Ardeu 50% do concelho A trovoada carrega a culpa deste incêndio que devastou quase 22 mil hectares.

Ulme, na Chamusca,
foi o ponto de partida do fogo, que varreu em apenas um dia metade do concelho. A 2 de Agosto, um dia após o arranque das chamas, havia casas a arder na vila da Chamusca e até unidades industriais que estavam no caminho do fogo foram consumidas. A localidade não dispunha de água nem de electricidade e os bombeiros deparavam-se com a falta de meios. A ameaça do incêndio obriga à evacuação dos trinta habitantes da aldeia de Casalinho.

VILA DE REI
Cercados pelas chamas O fogo entrou no concelho a 19 de Julho, tendo destruído mais de nove mil hectares, mas não ficou satisfeito e passados 11 dias reincidiu para engolir um área ligeira mente superior à da primeira passagem.

As chamas partiram novamente da Sertâ à conquista, bem sucedida, dos concelhos vizinhos de Vila de Rei, Sardoal e Abrantes.

Casas ardidas, povoações em risco, frentes de fogo indomáveis e moradores em pânico era o cenário vivido no dia em que Vila de Rei ficou cercada pelas chamas, sem electricidade nem comunicações. Pelo caminho ficou aquela que era a maior mancha contínua de pinheiro-bravo da Europa.

MONCHIQUE
Uma serra a preto O primeiro incêndio começou na Mexilhoeira Grande, em Portimão, mas arrasou vários concelhos do Barlavento algarvio.

Monchique, Aljezur e Lagos não escaparam.

Viram-se aldeias cercadas pelas chamas, populações à espera de serem evacuadas e chuvas de cinzas nas praias de Lagos.

O fumo intenso e a queda de materiais incandescentes obrigaram ao corte de várias estradas, incluindo alguns troços da Via do Infante. Contabilizavam-se quase 26 mil hectares de área ardida. O primeiro foco surgiu a 7 de Agosto, mas a 14 as chamas ainda não estavam controladas. Em Setembro, as chamas voltaram a Monchique. Desta vez, devastaram a serra. Foram 27.600 os hectares destruídos. Silves e Odemira completavam o rol de concelhos afectados.

NISA
O número um mcansável.ofogomanteveafonna durante 13 dias. Por vezes, as chamas combateram-se em 12 frentes. Resultado? 41.079 hectares de área ardida. Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários deNisa, José Polido, tudo começou num dia de trovoadas secas.

Três focos surgiram em simultâneo: S. Matias, Arez e Espírito Santo de Nisa. Os ventos fortes não ajudaram e as chamas chegaram apropagar-seamaisdeSOkm/h.NemoTejo serviu de obstáculo. Mação, Proença-a-Nova, Gavião e Vila Velha de Ródão compõem o rol de concelhos afectados. Diversas aldeias estiveram cercadas pelo fogo, que também rodeou a vila de Gavião. Várias casas arderam e muitos bombeiros apresentaram queimaduras ligeiras devido ao excesso de calor. Incendiarismo foi a causa oficial apontada para justificar o fogo.
In Público, Sábado 7 de Agosto 2004

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