A obra que deveria ter sido a estrela, em 2001, quando o Porto assumiu o estatuto da capital europeia da cultura, vai ser inaugurada, hoje, quatro anos depois, atravessando três governos, liderados pelo PS e pelo PPD-PSD e CDS-PP, após demissões sucessivas de conselhos de administração e com uma derrapagem financeira de cerca de 60 milhões de euros.
Cavaco Silva teve o Centro Cultural de Belém. António Guterres, Durão Barroso e Pedro Santana Lopes podem orgulhar-se da Casa da Música.
É uma vergonha! Mais uma, no extenso rol de obras de estadão que aproveitam subsídios vários e alimentam uma das práticas mais suspeitas dos trinta anos de democracia: a bandalheira dos projectos e dos orçamentos das grandes obras públicas.
Tudo o que é cimento e público tem o destino traçado. Inicialmente, custa 10. A meio da obra descobre-se que vai custar mais do dobro. No momento da inauguração, assume-se a factura que for preciso sem quaisquer problemas. Afinal, a título de mero exemplo, o célebre caso da JAE não serviu para nada. Tudo continua na mesma.
É uma situação intolerável, que continua a ser impune e a passar ao lado, em termos de consequências prática, de todas as entidades de controlo.
A Casa da Música, no Porto, é um edifício lindíssimo, ainda que alguns, por graça ou oportuna ironia, vislumbrem uma forma de apito nas suas linhas arrojadas. Não está em causa a sua estética nem a sua utilidade em prol da cultura. Mas, mais uma vez, ainda que a pergunta seja repetitiva, é preciso insistir: quem assume a responsabilidade da factura final da Casa da Música?
1 comentário:
A resposta é: ninguém.
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